quinta-feira, 17 de setembro de 2015


Longe... onde uma estrela solitária brilha

Longe... onde uma estrela solitária brilha: nas chorosas noites da África...
o céu é muito... muito negro...
como o tom da pele de seus anjos, esquálido-esqueléticos;
como negro é o abismo que separa o incerto do profético
Longe... onde uma estrela solitária brilha: nas dolorosas noites da África...
a lua que adormece no lago doce e imaginário,
nos confins de suas longínquas savanas silenciosas,
está pintada de vermelho...
vermelho: do sangue das almas somalis inocentes;
vermelho: da vergonha de um mundo que assiste a tudo impotente
Longe... onde uma estrela solitária brilha: nas tristes noites da África...
o mar tem o sal das lágrimas das mães de almas mutiladas
pela ausência dolorosa das crianças que lhes foram arrancadas
Longe...onde uma estrela solitária brilha: nas desesperadoras noites da África...
a poeira que levanta furiosa do árido chão,
é o que engana o estômago... é o que se chama de pão
e alimenta os nômades que vagam torpes por dias tão desleais,
numa imensidão de desiguais...
Longe... onde uma estrela solitária brilha: nas inconsoláveis noites da África...
onde, raízes expostas; secas e retorcidas,
lembram mãos estendidas a pedir ajuda... tão ressequidas
que, das mãos de Deus, parecem ter sido esquecidas
Longe... onde uma estrela solitária brilha: nas injustas noites da África...
o lamento longo e sofrido, num explicito pedido de socorro expedido
como um réquiem ou um doloroso mantra
que denuncia a morte que é muita... de fome que é tanta...
E vem de longe... onde uma estrela solitária brilha
( dos confins das noites da África )
Nunca se esqueça de que poderia ser você...
ser sua mãe; seu pai... sua irmã... sua filha

Lia Lopes

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