Uma carreira de estátuas frias
vigia o caminho até o portão.
Há uma névoa
que serpenteia vagarosa
pelo chão de pedras frias.
Pálida e triste donzela
desliza sobre o caminho de pedras.
Suas vestes esvoaçantes
balouçam à brisa
úmida da madrugada.
“Aonde vais, errante donzela?
O que procuras em tão fria noite?”
Ela se volta,
vê o anjo azul
e aponta em direção
ao grande portão.
O anjo azul lhe sorri:
“Queres a liberdade, pois não?”
Ela meneia a cabeça,
como um boneco sem alma,
e aponta novamente
o dedo pálido
em direção ao grande portão.
“Mas tu já tens a liberdade,
basta usá-la, pois não?
Entrego-te, pois,
a chave do portão.
Abre-o e segue teu caminho.”
Ela toma a chave
entre seus alvos dedos,
vai até o portão,
deslizando suave e branca.
Temerosa e circunspecta,
olha para a chave,
mas volta-se.
Novamente, o anjo lhe sorri:
“Tens medo de abri-lo?”
Muda e opaca,
ela meneia a cabeça.
Devolve ao anjo
a chave da liberdade.
O anjo azul lhe sorri mais uma vez:
“Um dia perderás o medo.
Voltarei, dentro de alguns anos,
com outra chave.”
E o anjo azul se vai.
Uma carreira de estátuas frias
vigia o caminho do portão
até o reino da solidão.
DADO CARVALHO
26.08.2011 – 01:00h
Nenhum comentário:
Postar um comentário