quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A NOITE DO CORVO

 
Meia-noite.
A cidade dorme.
No céu, vagas estrelas luzem.
A lua cheia caminha devagar.

Um corvo gigante singrou os ares
sobre a rua escura
calçada de pedras disformes.

O ar era úmido
e as igrejas estavam fechadas.
O corvo gigante pousou no cimo do prédio
e abriu suas asas negras.
E o céu se fechou.

A lua, que antes sorria,
derramou lágrimas de prata
que furaram o negrume da noite
e salpicaram o chão
com gotas argênteas.

O corvo, de asas abertas,
mantinha a escuridão,
sua íntima companheira.

As lágrimas da lua
não o comoveram:
“A noite é minha,
nenhuma luz será possível.”

Voou dali ao chão
e comeu os salpicos da lua
como se fossem grãos.

Mas, oh, pobre corvo!
Tornou-se iluminado e reluzente
como a própria lua.

A rua se iluminou,
e o corvo, frustrado,
chorou.

DADO CARVALHO
25.08.2011 – 20:50h.

Nenhum comentário:

Postar um comentário