Não sei se deveras existe,
só sei que o estranho me espreita,
e coisas inusitadas
surgem dependuradas
num firmamento de zinco.
Tudo é muito estranho e novo.
Tudo veio em bandeja de excelência,
e os lenços de linho estão dobrados
sobre a mesa.
─ O patrão descerá em instantes.
Os cristais intocáveis
rebrilham sobre a toalha de renda;
talheres de prata refulgem.
Não sei se deveras existe,
mas o mordomo fez mesura e saiu.
O maltrapilho, no meio da sala,
não sabe o que fazer.
Não sei se deveras existe,
mas o maltrapilho cheira
suas próprias mãos
há muito não lavadas.
O coração palpita,
um pequeno rato atravessou a sala.
Ouviu-se um tiro. Um grito!
O patrão maltrapilho desce
as escadas. ensangüentado.
Mármore salpicado de rubro.
─ Olá. Obrigado por ter vindo.
Jantamos? Sente-se, por favor.
Dois pares de olhos se fixaram
de modo estranho, de modo inusitado.
Um par azul, um par negro.
Lá fora era noite, e o céu estava límpido,
mas as estrelas eram suspeitas.
E a luz exibia um sorriso de escárnio.
DADO CARVALHO
24.08.2011 – 22:50h
Nenhum comentário:
Postar um comentário